{"id":1676,"date":"2017-05-17T00:00:00","date_gmt":"2017-05-17T03:00:00","guid":{"rendered":"http:\/\/guiadaalma.com.br\/?p=1676"},"modified":"2021-04-07T14:02:23","modified_gmt":"2021-04-07T17:02:23","slug":"a-inevitavel-impermanencia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/stg.guiadaalma.com.br\/a-inevitavel-impermanencia\/","title":{"rendered":"A inevit\u00e1vel imperman\u00eancia"},"content":{"rendered":"

Parte 1 – Constante Desconhecido<\/strong><\/h2>\n

\u201cN\u00e3o existe meio de verificar qual \u00e9 a boa decis\u00e3o, pois n\u00e3o existe termo de compara\u00e7\u00e3o. Tudo \u00e9 vivido pela primeira vez e sem prepara\u00e7\u00e3o. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida j\u00e1 \u00e9 a pr\u00f3pria vida? \u00c9 isso que faz com que a vida pare\u00e7a sempre um esbo\u00e7o. No entanto, mesmo \u2018esbo\u00e7o\u2019 n\u00e3o \u00e9 a palavra certa porque um esbo\u00e7o \u00e9 sempre um projeto de alguma coisa, a prepara\u00e7\u00e3o de um quadro, ao passo que o esbo\u00e7o que \u00e9 a nossa vida n\u00e3o \u00e9 o esbo\u00e7o de nada, \u00e9 um esbo\u00e7o sem quadro.\u201d<\/p>\n

Milan Kundera<\/p><\/blockquote>\n

Voc\u00ea j\u00e1 mudou de apartamento?<\/p>\n

Quando nos embalamos para transporte, alocamos v\u00e1rios pertences pessoais no caminh\u00e3o de um desconhecido e nos despedimos de tudo que \u00e9 rotineiro para dar um novo nome ao nosso endere\u00e7o, o que estamos fazendo?<\/p>\n

A mudan\u00e7a \u00e9 parte constante da nossa vida<\/a> e da vida de todos ao nosso redor.<\/strong> A mudan\u00e7a \u00e9 uma constante tamb\u00e9m em criaturas isentas de vida ciente, em objetos inanimados e, inclusive, em subst\u00e2ncias qu\u00edmicas inocentes a todos esses conceitos.<\/p>\n

A mudan\u00e7a \u00e9 f\u00edsica, \u00e9 parte das leis que governam nosso Universo. Ora, a mudan\u00e7a \u00e9 o Universo.<\/strong> \u00c9 como tudo come\u00e7ou e \u00e9 para onde vai.<\/p>\n

E a gente aqui, tentando ficar parados e seguros..<\/p>\n

Os seres humanos est\u00e3o aprendendo a viver enquanto vivem. Dessa forma, podemos imaginarmo-nos como uma legi\u00e3o de pessoas cegas tentando trilhar um caminho dentro de uma floresta desconhecida. O que \u00e9 o certo a ser feito? O que \u00e9 ser respons\u00e1vel, respeitoso, ter um futuro, dar certo, ter estabilidade emocional, ser emocionalmente respons\u00e1vel, etc.?<\/em><\/p>\n

Qual o caminho que eu quero trilhar? Quando n\u00e3o conhecemos nenhum caminho, \u00e9 dif\u00edcil de dizer mesmo.<\/p>\n

Claro que podemos aprender uns com os outros, estamos todos o tempo esbarrando uns nos outros. Uns tentam nos ajudar, outros nos atrapalhar\u2026 Outras pessoas, inclusive, bem intencionadas nos prejudicam, e vice-versa (por mais incr\u00edvel que pare\u00e7a).<\/p>\n

Todo mundo vai chegar a algum lugar, considerando que n\u00e3o existe um \u00fanico caminho rom\u00e2ntico e correto para a vida de ningu\u00e9m.<\/p>\n

Mas convenhamos, quanto mais tempo tateando no escuro, mais percebemos que o escuro \u00e9 denso e extenso. Quanto mais vivemos e temos uma perspectiva maior de passado, mais mem\u00f3rias absorvemos do que \u00e9 \u201cestar vivo\u201d, e melhor compreendemos a complexidade abismal do que chamamos de vida. Conseguimos, portanto, vislumbrar assustados os poss\u00edveis desafios futuros com mais detalhes.<\/p>\n

Quando somos crian\u00e7a, n\u00e3o temos um padr\u00e3o de compara\u00e7\u00e3o, ent\u00e3o \u00e9 mais f\u00e1cil de criar perigosos medos irracionais e tamb\u00e9m mais f\u00e1cil de ser otimista frente aos lados bons e divertidos da vida.<\/p>\n

Mas a medida que nos tornamos mais velhos e deixamos escapar a inoc\u00eancia pelos dedos, algumas verdades se apresentam mais cruas e diretas. J\u00e1 sentimos uma grande parte de diversos tons de sentimentos bons e ruins, j\u00e1 entendemos melhor o bolo emocional que comp\u00f5e o caminho. A\u00ed paramos, olhamos pra frente e entendemos: ainda tem muito desse ch\u00e3o todo para andar.<\/p>\n

Parte 2 – O medo da mudan\u00e7a
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\u201cO pessimista e o t\u00edmido s\u00e3o os caras que conseguem sempre acreditar que a pior hip\u00f3tese vai acontecer\u201d<\/p>\n

Meu pai<\/p><\/blockquote>\n

Sinto que grande parte do medo de mudan\u00e7a que as pessoas t\u00eam vem disso: o medo do futuro e de todas as suas possibilidades.<\/p>\n

Quando estamos no escuro da floresta-vida, cansados de bater o calcanhar em tudo que \u00e9 pedra, de talvez sermos enganados por outros andarilhos ou de cairmos em buracos e armadilhas, depois desse tempo existe uma tend\u00eancia em seguirmos s\u00f3 por onde temos certeza que tem ch\u00e3o firme. Os caminhos conhecidos e j\u00e1 planos de tanta colis\u00e3o com nossos p\u00e9s.<\/p>\n

A ilus\u00e3o de seguran\u00e7a vem da no\u00e7\u00e3o de que se nunca tentarmos nada novo, as coisas boas ainda v\u00e3o acontecer enquanto todas as coisas ruins ser\u00e3o evitadas. Mas o que esquecemos \u00e9 daquilo: a mudan\u00e7a rege nosso Universo.<\/strong> Lutar contra ela \u00e9 uma das lutas mais ingratas que existem.<\/p>\n

N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo em um mundo que muda o tempo todo. N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo em um corpo que constantemente se transforma. N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo quando estamos em um processo de expira\u00e7\u00e3o, inspira\u00e7\u00e3o, expira\u00e7\u00e3o, inspira\u00e7\u00e3o, e assim por diante, e diante e diante, sem nunca parar.<\/p>\n

Aqui, ali, indo, voltando. Muda quem passa, mudam os interesses, muda o ambiente, muda voc\u00ea, mudo eu. Mudan\u00e7as, mudan\u00e7as, mudan\u00e7as. Pausa. Mas continua.<\/p>\n

Tendo em vista que tudo muda, muda tamb\u00e9m aquilo que nos faz feliz, mudam os tipos de assuntos queremos falar e o tipo de pessoas que queremos ouvir. Muda por quem arriscamos nos apaixonar, mudam os lugares que queremos conhecer, as comidas que queremos provar e as comidas que queremos fazer. \u00c9 natural, \u00e9 o fluxo das coisas.<\/p>\n

Mas se o medo de se movimentar nos paralisa, se pensarmos sempre pelo ponto de vista do pior que pode acontecer e como podemos nos prejudicar, aciona-se automaticamente o instinto da autopreserva\u00e7\u00e3o. Corremos para a caverna, apagam-se as tochas. Sil\u00eancio, escuro, \u201cseguro\u201d.<\/p>\n

Lutamos contra a corrente, mas que tipo de dores esse atrito pode causar?<\/p>\n

Porque mesmo parados, a corrente continua.<\/p>\n

A ironia \u00e9 que o medo de mudar n\u00e3o nos impede de mudar.<\/p>\n

\u00c0s vezes ficamos tanto tempo com medo de nos permitir mudar, que come\u00e7amos a ficar confusos com a imagem pessoal que temos de n\u00f3s mesmos. Se eu n\u00e3o gosto mais do que eu gostava antes, do que eu gosto ent\u00e3o? O que eu quero fazer? O que me deixa feliz?<\/p>\n

Quem diabos sou eu?<\/p>\n

Quanto mais tempo ficamos com medo<\/a> de andar na floresta que nos embala, menos conhecemos quem est\u00e1 por baixo da pele que vestimos.<\/p>\n

\"guia-da-alma-eric-monge-han-medo-impermanencia\"<\/p>\n

E a\u00ed levamos todas as caixas pra casa nova. E quem mora nessa casa \u00e9 a mesma pessoa que morava na casa antiga?<\/p>\n

\u00c1s vezes, quando criamos coragem e conseguimos dar mais alguns passos no escuro, percebemos que aquele lugar t\u00e3o assustador na verdade \u00e9 tranquilo de se andar.<\/strong> Que aquela dire\u00e7\u00e3o t\u00e3o imprevis\u00edvel na verdade pode at\u00e9 ser interpretada. E mesmo quando o caminho n\u00e3o \u00e9 confort\u00e1vel, pode nos dar alguns presentes inesperados.<\/p>\n

E principalmente: para qualquer dire\u00e7\u00e3o que criamos pernas, todo caminho \u00e9 para dentro.<\/strong> \u00c9 sobre como vemos o mundo, como enxergamos nossas decis\u00f5es e como vislumbramos o risco de estarmos vivos. E indo pra todos cantos, acabamos nos encontrando mais com n\u00f3s mesmos.<\/p>\n

Ol\u00e1, eu do eu mesmo.<\/p>\n