\u201cN\u00e3o existe meio de verificar qual \u00e9 a boa decis\u00e3o, pois n\u00e3o existe termo de compara\u00e7\u00e3o. Tudo \u00e9 vivido pela primeira vez e sem prepara\u00e7\u00e3o. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida j\u00e1 \u00e9 a pr\u00f3pria vida? \u00c9 isso que faz com que a vida pare\u00e7a sempre um esbo\u00e7o. No entanto, mesmo \u2018esbo\u00e7o\u2019 n\u00e3o \u00e9 a palavra certa porque um esbo\u00e7o \u00e9 sempre um projeto de alguma coisa, a prepara\u00e7\u00e3o de um quadro, ao passo que o esbo\u00e7o que \u00e9 a nossa vida n\u00e3o \u00e9 o esbo\u00e7o de nada, \u00e9 um esbo\u00e7o sem quadro.\u201d<\/p>\n
Milan Kundera<\/p><\/blockquote>\n
Voc\u00ea j\u00e1 mudou de apartamento?<\/p>\n
Quando nos embalamos para transporte, alocamos v\u00e1rios pertences pessoais no caminh\u00e3o de um desconhecido e nos despedimos de tudo que \u00e9 rotineiro para dar um novo nome ao nosso endere\u00e7o, o que estamos fazendo?<\/p>\n
E a gente aqui, tentando ficar parados e seguros..<\/p>\n
Parte 2 – O medo da mudan\u00e7a
\n<\/strong><\/h2>\n\u201cO pessimista e o t\u00edmido s\u00e3o os caras que conseguem sempre acreditar que a pior hip\u00f3tese vai acontecer\u201d<\/p>\n
Meu pai<\/p><\/blockquote>\n
Sinto que grande parte do medo de mudan\u00e7a que as pessoas t\u00eam vem disso: o medo do futuro e de todas as suas possibilidades.<\/p>\n
Quando estamos no escuro da floresta-vida, cansados de bater o calcanhar em tudo que \u00e9 pedra, de talvez sermos enganados por outros andarilhos ou de cairmos em buracos e armadilhas, depois desse tempo existe uma tend\u00eancia em seguirmos s\u00f3 por onde temos certeza que tem ch\u00e3o firme. Os caminhos conhecidos e j\u00e1 planos de tanta colis\u00e3o com nossos p\u00e9s.<\/p>\n
A ilus\u00e3o de seguran\u00e7a vem da no\u00e7\u00e3o de que se nunca tentarmos nada novo, as coisas boas ainda v\u00e3o acontecer enquanto todas as coisas ruins ser\u00e3o evitadas. Mas o que esquecemos \u00e9 daquilo: a mudan\u00e7a rege nosso Universo.<\/strong> Lutar contra ela \u00e9 uma das lutas mais ingratas que existem.<\/p>\n
N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo em um mundo que muda o tempo todo. N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo em um corpo que constantemente se transforma. N\u00e3o d\u00e1 para permanecer o mesmo quando estamos em um processo de expira\u00e7\u00e3o, inspira\u00e7\u00e3o, expira\u00e7\u00e3o, inspira\u00e7\u00e3o, e assim por diante, e diante e diante, sem nunca parar.<\/p>\n
Aqui, ali, indo, voltando. Muda quem passa, mudam os interesses, muda o ambiente, muda voc\u00ea, mudo eu. Mudan\u00e7as, mudan\u00e7as, mudan\u00e7as. Pausa. Mas continua.<\/p>\n
Tendo em vista que tudo muda, muda tamb\u00e9m aquilo que nos faz feliz, mudam os tipos de assuntos queremos falar e o tipo de pessoas que queremos ouvir. Muda por quem arriscamos nos apaixonar, mudam os lugares que queremos conhecer, as comidas que queremos provar e as comidas que queremos fazer. \u00c9 natural, \u00e9 o fluxo das coisas.<\/p>\n
Mas se o medo de se movimentar nos paralisa, se pensarmos sempre pelo ponto de vista do pior que pode acontecer e como podemos nos prejudicar, aciona-se automaticamente o instinto da autopreserva\u00e7\u00e3o. Corremos para a caverna, apagam-se as tochas. Sil\u00eancio, escuro, \u201cseguro\u201d.<\/p>\n
Lutamos contra a corrente, mas que tipo de dores esse atrito pode causar?<\/p>\n
Porque mesmo parados, a corrente continua.<\/p>\n
A ironia \u00e9 que o medo de mudar n\u00e3o nos impede de mudar.<\/p>\n
\u00c0s vezes ficamos tanto tempo com medo de nos permitir mudar, que come\u00e7amos a ficar confusos com a imagem pessoal que temos de n\u00f3s mesmos. Se eu n\u00e3o gosto mais do que eu gostava antes, do que eu gosto ent\u00e3o? O que eu quero fazer? O que me deixa feliz?<\/p>\n
Quem diabos sou eu?<\/p>\n
Quanto mais tempo ficamos com medo<\/a> de andar na floresta que nos embala, menos conhecemos quem est\u00e1 por baixo da pele que vestimos.<\/p>\n